Senti algo queimando em meu
braço direito hoje de manhã, era de uma réstia muito forte. Minha janela estava
um pouco aberta e isso fazia com que o sol batesse ali. Isso me fez acordar.
Após um longo banho quente, decidi colocar meu vestido azul cheio de bolinhas
brancas, aquele que a vovó costumava usar em dias chuvosos, como hoje. Meu café
da manhã foi repleto de frutas. Maçã e goiaba foram os que eu mais consumi,
meus preferidos desde sempre. Maçã me lembra mamãe, que tinha uma árvore enorme
no quintal de casa, lá no interior. Goiaba, faz-me lembrar Danilo. Bom, é uma
longa história. Porém o Danilo teve uma grande importância na minha vida.
Quando o conheci na pré-escola, parecia que seríamos bons amigos, por um bom
tempo. Mas depois de muitos anos de amizade intensa, começamos a sentir algo
que nos fez agir mais fortemente. Romântico, Danilo me entregava flores e
chocolates quase toda quinzena, e em uma dessas vezes, fui presenteada com um
perfume de goiaba, cujo aroma soava natural. Cada vez que encontrava meu amado,
passava o perfume. Ele adorava, já que sua fruta preferida também era goiaba.
Eu e Danilo éramos completamente apaixonados um pelo outro. Isso nos levou ao
casamento. Depois de um duplo “sim” dito no altar, passamos cerca de três anos
juntos. Enquanto Danilo trabalhava, eu ficava em casa cuidando de minhas
coisas, éramos tranquilos e não havia brigas em nosso relacionamento. Até que
em um certo dia, Danilo estava voltando para casa, e então, enquanto
atravessava a rua, um caminhão o atropelou e o fez ser levado para o hospital às
pressas e em estado grave. Mesmo ele em coma, meu amor se fazia presente. Eu o
visitava usando o perfume de goiaba que ele tanto gostava. Depois de três,
cinco, sete meses em coma, enquanto eu saía de casa recebi uma ligação. Era o
médico. Danilo havia morrido. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu não sabia
como reagir. Naquele momento vi meu mundo desabar. Ver meu amado em um caixão,
sendo sepultado em baixo de uma leve garoa, me fez querer encarar a morte
também. Hoje, três anos depois da morte de Danilo, aqui estou relatando a minha
história de amor. Preciso terminar isso logo, devo ir ao cemitério. Toda
quinzena entrego flores ao meu amado. E seu túmulo encontra-se de baixo de uma
árvore de goiabas, para que quando ele quiser, sinta o meu aroma. Sinta que
estou presente, mesmo quando eu não estiver.